Arquiteto para quê?
“Negativo, se olharmos para o passado; mas positivo, se pensarmos no futuro”. A frase, do presidente do CAU/BR, Haroldo Pinheiro, sintetiza a primeira leitura do dirigente nacional do conselho profissional de arquitetos e urbanistas sobre o resultado inicial da pesquisa que encomendou acerca da opinião da sociedade brasileira sobre a atuação dos profissionais da área.
Entre 9 e 12 de junho, o Datafolha – instituto vencedor da licitação aberta com tal finalidade – ouviu 2.419 entrevistados pertencentes à população economicamente ativa do país, que soma cerca de 111 milhões de pessoas. 7% dos depoentes disse ter contratado um arquiteto.
A porcentagem é pouco expressiva em termos relativos, mas, se vista de forma absoluta e conjugada à alta taxa de satisfação entre os pesquisados (70%), aponta para o possível grande contingente de clientes aptos a contratar um dos 130 mil profissionais em exercício no país. O problema, contudo, se manifesta através de outra constatação: são elitistas os projetos encomendados e, ainda mais, 73% deles se deu por indicação de terceiros. Os números, assim, retratam uma realidade já pressentida: a arquitetura brasileira é constituída por obras de exceção, de autoria de um seleto grupo de profissionais que, através da propaganda informal, domina o mercado.
Mas a igualmente alta parcela de entrevistados que, embora nunca tenha contratado um arquiteto, o faria se tivesse a oportunidade (70%), abre outro eixo estratégico de reflexão para o CAU. Pinheiro destaca os motivos econômico – embora não saibam precisar valores, muitos dos pesquisados se disseram inaptos financeiramente a comissionar um projeto de arquitetura – e técnico – desperdício de material e a necessidade de refazer serviços em obras sem a presença do arquiteto -, predominantes entre aqueles que gostariam de estrear como usuários da arquitetura, como possíveis pontos reversíveis através da interlocução do CAU com a sociedade. “Atuando junto à imprensa leiga e digital”, exemplifica, assim como consolidando a tabela de honorários.
O público-alvo, nesse caso, é aquele que garante o sustento da indústria de materiais de construção: empreendedores de obras pequenas e informais. “Eles são invisíveis para o Ministério das Cidades e a Caixa Econômica Federal, que não percebem que a grande parte das habitações é feita sem arquiteto”, analisa Pinheiro. Ele se refere ao privilégio dado no país ao financiamento de construções de moradias populares por intermédio de grandes empreiteiras, “que estão construindo parasitas das nossas cidades”.
Nesse aspecto, entram em discussão as iniciativas da Assistência Técnica e da Residência Técnica, bandeiras do conselho na sua campanha para ampliar a abrangência da arquitetura e do urbanismo no Brasil. A primeira, com lei aprovada mas ainda não regulamentada, trata da obra unitária (financiamento de projeto e construção de moradia popular individual), e a segunda se refere à presença de arquitetos nas prefeituras dos mais de 5,5 mil municípios brasileiros. “A pesquisa revela que a sociedade reconhece a importância dos arquitetos e urbanistas para o bom planejamento e a qualidade das cidades. Vamos ver se o poder público se sensibiliza com os números que temos para apresentar”, diz Pinheiro.
“E nossas escolas têm que superar o vício da glamourização da profissão e focar no cotidiano das cidades. Não é sempre que se precisa construir o palácio, também o Oscar [Niemeyer] concebeu obras coadjuvantes”, prossegue o arquiteto, inserindo no debate a questão do ensino. Ele contextualiza a pesquisa, que estava em fase de detalhamento qualitativo no período de fechamento desta edição da revista, como ferramenta do planejamento estratégico do CAU/BR, que tem no lema “Arquitetura para todos” um de seus pilares.
Reprodução: arcoweb